"Minha memória é uma cova funda, onde enterrei todos os meus mortos.
Minha cabeça é uma montanha esburacada, por onde escoam todos os detritos do mundo.
Meu coração não bate, apanha.
E os meus pés estão sempre tropeçando.
Pára, pensamento, pára. Um instantinho só, por favor. Preciso esquecer.
O quê? Tudo.
Chega de sofrimento, quero o alento.
É a memória - e não a dor - que faz você se lembrar de centenas de ruas selvagens e ermas.
Li isso em "Luz de Agosto", mas já faz muito tempo.
Cite um absurdo.
O brado retumbante.
Outro.
Um homem rastejante.
Mais outro.
O céu da pátria nesse instante.
Cite o pior de todos.
A morte.
Diga qualquer coisa.
A paz a gente só encontra na morte ou quem morre acaba?"
por ANTÔNIO TORRES, escritor baiano
Trechos de “Um cão uivando para a Lua” (1972)
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